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TV - Nany People critica a escolha de transexuais para reality shows

 

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 Com a mesma sinceridade que incomodou personalidades como Monique Evans e Sergio Mallandro, a transexual falou sobre diversos assuntos

Prestes e comemorar 46 anos, a atriz transexual Nany People ainda colhe os louros de sua participação em “A Fazenda 3” (Rede Record). Vaidosa, deu uma repaginada no visual com novas próteses de silicone. Atualmente, ela roda o Brasil com o divertidíssimo stand-up “ImproRiso”, apresentado todas as terças, às 21h, no Procópio Ferreira, em São Paulo.

Com a mesma sinceridade que incomodou personalidades como Monique Evans e Sergio Mallandro, a transexual falou sobre o boom de artistas fazendo stand-up, os motivos que a fizeram voltar às boas com o ator Dudu Pelizzari, a polêmica com Marcos Mion e sobre a presença de Ariadna e Luisa Marilac em reality shows. “Gostaria de alguém com algo de bom para mostrar. Se é para meterem o sarrafo, não precisa ir pra 'Fazenda', é só andar pela noite”, soltou. Leia, a seguir, a entrevista completa:

Ferveção - Ano passado você participou de “A Fazenda 3”. Sentiu alguma mudança em sua vida?
Nany People - Posso dizer que mudou tudo. Não só a maneira como as pessoas passaram a me enxergar, mas a maneira como o mercado começou me contratar. Fiz uma série de eventos que não fazia. Teatros e produtores que não me contratavam passaram a me dar uma grande abertura. Eu já tinha feito “Hebe” durante sete anos, “Amaury Jr”, fiz a “Praça é Nossa” (SBT), mas a "Fazenda" me deixou conhecida de A a Z.

Ferveção - Assim que foi eliminada, você disse que não voltaria a falar com Dudu Pelizzari (seu maior desafeto no programa), mas logo o desculpou. O que aconteceu?
Nany People - A mãe dele me mandou um depoimento muito lindo. Ela disse que me agradecia por tudo o que fiz ao filho e que, embora eu não quisesse mais falar com ele, ela entendia os meus motivos. Então achei aquilo muito sublime e conversei com ele na volta à "Fazenda", no Natal. Hoje sou mais amiga da mãe do que dele.

Ferveção - Durante a seleção de participantes da nova edição da "Fazenda", cogitou-se o nome da transexual Roberta Close e da travesti Luisa Marilac. O que você achou?
Nany People - Depois que inventaram essa internet barata, Youtube, Twitter, todo mundo vira celebridade. Trans por trans eles devem escolher direito, porque a imagem já é deturpada. Não conheço a Luisa pessoalmente, mas se ela vai mostrar o que o pessoal já espera ver... Por canalhice e mundo cão, todo mundo sabe que transexual transita. Quero pessoas que façam algo de bom, que tenham um trabalho a mostrar. Se é para meterem o sarrafo, não precisa ir pra "Fazenda", é só andar pela noite.



Ferveção - Vi pelo Twitter que você também não aprovou a escolha da Ariadna...
Nany People - Por que não colocam uma pessoa que trabalha como secretária? Eu conheço tantas... Eu conheço trans que trabalha no Ministério Público de São Paulo, professoras, vereadoras, cabeleireiras. Mas o que eles sempre buscam? Eu pergunto: cadê a Ariadna hoje em dia? O que está fazendo? O que a Ariadna está fazendo?

Ferveção - Ela está fazendo performances em baladas, dublagens...
Nany People - Então, isso eu fazia há 30 anos. Ah, por favor. Cachorra todas nós somos, pedigree poucas de nós têm.

Ferveção - Você fazia stand-up em baladas muito antes disso se tornar febre. A que se deve esse boom? 
Nany People - A única coisa que mudou foi que a juventude comprou a ideia muito bem. E a internet, que colaborou e aproximou os grupos. Estou vivendo no stand-up o mesmo boom que vivi com as drags nos anos 90. Hoje em dia é assim: “sua carreira publicitária não deslancha, sofreu bullying na infância, está ruim para pegar mulher? Faça stand-up!”. O que precisa ter em primeiro lugar? Carisma!

Ferveção - Conte uma experiência curiosa que vivenciou no palco?
Nany People - Foi quando uma mulher apareceu no show com um bebê. Ela disse que conheceu o marido em uma de minhas apresentações, namoraram, casaram, e tiveram aquele filho. Com um mês de vida, ela estava no meu camarim com a criança, agradecendo.
Quer

Ferveção - O que te faz rir?
Nany People - Os acasos da vida, as ironias. Quando você acha que é dono do jogo, a vida dá um sacolejo e isso me faz rir. Como diz o filme “Advogado do Diabo”, de todos os pecados capitais a vaidade é o de que eu mais gosto. É igual à "Fazenda", todos temos os dias de fazendeiro, todos os dias podemos ganhar R$ 2 milhões e também temos os dias de roça.

Ferveção - Recentemente uma ONG processou Marcos Mion por homofobia usando o seu nome. O que achou disso?
Nany People - É a falsa moralidade. Daqui a pouco você não pode fazer piada de gordo, de loira, vai ter que rezar "Ave Maria" antes de fazer humor. Foi uma ONG que fez a denúncia, mas cadê a coragem de se mostrar? Vou processar quem usou meu nome? Porque quando aconteceu o B.O. ninguém ligou para a ONG nem para a Record, ligou para mim. É preciso tomar cuidado, porque daqui a pouco as ONGs vão perder o respeito.

Ferveção - Conversou com o Mion?
Nany People - Ele me ligou, desesperado. Quando foi levar o filho no colégio, foi chamado de bandido no farol. Não dá para colocar tarja de homofóbico nas pessoas. Eu já me senti discriminada? Já! Por homossexuais quando coloquei peito. Começaram a dizer: ah, não é mais drag, é travesti. Eu sou atriz, humorista e sou transexual, e me assumo. Porque gay para mim foi pouco, gay para mim foi singular. Eu gosto de pluralidade.

Ferveção - Pouca gente define, explica o que é homofobia?
Nany People - É você literalmente trajar, declarar, delatar, verbalizar, deixar claro, inclusive em atitudes, que você não suporta a orientação sexual do outro e impedir que o outro seja ou exista. É isso!

Ferveção - Está namorando?
Nany People - Estou pegando (risos). Se Madonna pegou Jesus, eu só pego querubim. Só não estou namorando porque eles não querem assumir compromisso. Mas não cobro nada de ninguém. Estou muito agradecida pelo que a vida tem me dado, mas sei exatamente o que não quero e o que não sou.

Ferveção - Para finalizar, que dica dá para os novos participantes da "Fazenda"?
Nany People - Não subestime a inteligência do mundo, não ache que se pode tudo em função de um jogo. Porque o jogo da vida é ainda mais forte. Por mais que o vil metal seja tentador, o fio moral não pode ser perdido. Não perca o
fio moral!   dizer, eu estou entrando na história da família e acho isso muito bacana.

 

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