O
drama que sofreram, entretanto, não marcava ali
um final trágico. Ao contrário, era o início de
uma vida baseada na superação e nas vitórias em
cima do que antes era inimaginável
Quem
levou a melhor?
No
ano de 2009, a vida de dois jovens virou de
cabeça para baixo. A reviravolta foi inesperada e
surreal na vida de um fuzileiro naval americano e
de um atleta brasileiro na faixa dos vinte anos. O
drama que sofreram, entretanto, não marcava ali
um final trágico. Ao contrário, era o início de
uma vida baseada na superação e nas vitórias em
cima do que antes era inimaginável.
Após
ser atingido por uma bomba na região de Helmand,
no Afeganistão, o jovem soldado Alex Minsky
passou 17 meses no hospital, que incluíram um
período de 58 dias em coma. Ferimentos
gravíssimos, como mandíbula quebrada em quatro
lugares diferentes, braço dilacerado e perna
amputada um pouco abaixo do joelho, conviviam com
um tubo de plástico na traqueia. Minsky teve que
reaprender a falar e andar apenas com uma perna,
além de ficar com um braço desfigurado e
diversas cicatrizes pelo corpo. Para completar,
veio o falecimento do irmão. Aposentado por
invalidez da marinha, o que se viu nos momentos
seguintes foi depressão, alcoolismo e drogas.
Já
vislumbrando um cenário de morte breve, passou a
malhar duas vezes por dia e seis vezes na semana.
Nessa época, já estava coberto de tatuagens –
que escondem algumas das marcas da guerra, mas que
também foram feitas em memória à experiência
traumática pela qual passou e também algumas
dedicadas à família.
Foi
na academia que o fotógrafo Tom Cullis o
descobriu e viu nele potencial para estrelar
campanhas de uma grife atlética e apenas de cueca
para marcas famosas, além de ser representante de
sites de fitness e também capa da edição de
maio da “Men’s Health” italiana e da
badalada revista gay australiana DNA. Nas redes
sociais, posta selfies sem roupa e dá dicas de
alimentação saudável. A fanpage do moço conta
com mais de 200 mil seguidores e o perfil no
Instagram é seguido por mais de 20 mil pessoas.
“Nunca pensei que algum dia na vida fosse ser
modelo. Mesmo antes de acidente, nunca foi um
sonho ou objetivo”, contou o bonitão em vídeo
de making of da campanha.
As
imagens de Alex Minsky redefiniram os padrões de
beleza e perfeição ao colocar um modelo com a
perna amputada como personagem principal de uma
marca atlética de grife. E o caminho de glória a
ser percorrido é longo: recentemente, o modelo
foi anunciado como um dos destaque do filme “Jogos
Vorazes: A Esperança – Parte I”, que estreia
dia 21 de novembro nos cinemas. “É tudo em nome
da minha sobriedade, nada de me deslumbrar”,
confessou ao jornal “The Metro” o rapaz de
corpo escultural repleto de tatuagens – que o
próprio já revelou ter perdido as contas-,
sorriso sexy… e sem uma perna. Assim, Minsky,
hoje aos 23 anos de idade, incentiva a
auto-aceitação e é exemplo para muitas pessoas
com deficiências físicas.
Aqui
no Brasil, o ex-fuzileiro americano tem um exemplo
parecido. O ex-BBB e atleta paraolímpico Fernando
Fernandes, o primeiro campeão mundial em
paracanoagem, virou referência de superação
após sofrer um acidente de carro em 2009. Depois
de dormir no volante voltando de uma partida de
futebol, ele acordou no hospital e recebeu a
sentença que mudaria a sua vida: uma lesão na
medula espinhal havia tirado o movimento de suas
pernas. No auge da carreira de atleta e de modelo
– trabalhava como modelo e se preparava para um
trabalho em Milão, na Itália -, ele deu uma
virada na vida e se tornou exemplo para outros
cadeirantes. “Lembro o momento em que acordei e
percebi que estava numa maca. Estava confuso, mas
comecei a ter noção. Eu dava um comando para
perna e não vinha. Aí eu entrei em desespero e
vi que alguma coisa grave aconteceu”, descreveu
ele, recentemente em entrevista ao “Domingão do
Faustão”.
Fernando
passou por cirurgias e se dedicou intensamente à
fisioterapia. Decidido a tocar a vida e se
reinventar, o atleta e modelo surpreendeu toda
família com a maneira como lidou com sua nova
condição. Repleto de histórias de motivação,
reencontrou-se e redescobriu no esporte uma
maneira de se comunicar com o mundo. “Eu vi o
esporte como uma alternativa, como uma resposta
para minha vida. O esporte se tornou minha
ferramenta de comunicação com o mundo. O esporte
me ensinou a ganhar, mas me ensinou a perder
também”, resumiu Fernando.
Com
três meses de lesão, o atleta decidiu correr
pela São Silvestre. “Terminei os 15 km como
penúltimo colocado da categoria, mas sai me
sentindo campeão. Consegui o mais importante:
resgatar a sensação de capacidade. Depois disso,
surgiu a canoagem na minha vida, que foi onde me
reencontrei. Para mim, é muito mais do que uma
competição, é liberdade”, resume ele,
entusiasmado. Em cinco anos, tornou-se
tetracampeão mundial de paracanoagem. Mas
Fernando guarda consigo o desejo de voltar a andar
com as próprias pernas. E tornou-se embaixador do
Wings For Life World Run, a corrida mundial pela
cura de lesões na medula. “Acredito que essa
corrida vai servir de cobrança para o mundo, a
comunidade científica, os políticos. A minha
ideia é que realmente o mundo pare no dia 4 de
maio para refletir sobre essa causa. A corrida vai
existir até que se encontre a cura da lesão na
medula espinhal! Essa é a principal mensagem que
queremos passar”.
O
Wings For Life é um evento desportivo que chama
atenção pela participação dos próprios
cadeirantes. Segundo Fernando, o esporte é
fundamental. “Você trabalha o visual, o copo, a
autoestima, a qualidade de vida. Ele é a maior
ferramenta de quebra de barreiras. Você está o
tempo todo ultrapassando limites, provando ser
capaz de realizar tarefas que duvidava e muitas
vezes até melhor do que quem não tem
deficiência física. O efeito disso na autoestima
do cadeirante é monstruoso”.
Em
maio deste ano, Fernando foi para o Havaí fazer
uma travessia de 54km em alto mar. Agora, volta a
focar em mais um campeonato mundial, já pensando
nos Jogos Paralímpicos de 2016, no Rio de
Janeiro. Enquanto isso, vez ou outra, Fernando –
que ganhou notoriedade em 2002 ao participar da
segunda edição do Big Brother Brasil e namorar a
atriz Danielle Winitz – exibe seus atributos
físicos estrelando ensaios fotográficos
sensuais. Assim como Alex Minsky, prova que o
padrão de beleza não vê o limite da
imperfeição física.
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