Maior
evento de música eletrônica do mundo leva 60 mil
a Itu

Quando
Jim Morrison - o contraditório vocalista do Doors,
um dos estandartes do rock psicodélico dos anos
1960 - previu, em uma entrevista em 1969, que a
música eletrônica tomaria conta de tudo no
futuro, talvez até as pessoas acreditassem nele,
mas acreditavam menos que os 60 mil aficionados
que compareceram nesta sexta-feira, 1°, ao
primeiro dia do Tomorrowland Brasil.
Na
gigantesca Fazenda Maeda, em Itu, milhares de
brasileiros receberam com simpatia outros milhares
de estrangeiros para ouvir especialmente as
vertentes da EDM (eletronic dance music), estilo
que domina as pistas de todo mundo nessa segunda
década do século 21 - embora o festival tenha
diversos palcos menores dedicados a outros
estilos. Bandeiras de vários países da América
Latina (Argentina, Chile e Venezuela, mas também
Panamá, Costa Rica e México), da América do
Norte e até da Austrália eram vistas entre
farroupilhas e recifenses.
Até
o final da tarde desta sexta, os principais DJs do
dia ainda não haviam se apresentado: os
holandeses Afrojack e Hardwell (o homem que
quebrou o Twitter), o americano Steve Aoki (que
lotou até o esgotamento a tenda eletrônica do
último Lollapalooza) e os brasileiros Marky
(lenda do Drum n bass internacional, experiente em
Tomorrowlands europeus) e Alok (brasiliense que é
a nova sensação da eletrônica no País e
fora).
Estrangeiros.
O empresário canadense Graham Westling, de 30
anos, veio com a namorada pela primeira vez ao
Brasil para ter novamente a experiência do
Tomorrowland - o casal já tinha ido à edição
europeia. Gostaram tanto que compraram os
ingressos para o Brasil. “É um pouco menor do
que na Europa, mas estou adorando a ideia de estar
aqui na primeira edição”, comentou Westing - a
bandeira do Canadá era motivo de interação
constante com os brasileiros e latino americanos.
“As pessoas aqui são demais”, brincou o
gringo.
Já
o panamenho Antonio Talavera, de 51, veio sozinho
ao Brasil depois de não conseguir ingressos na
Bélgica. “Frequento os clubes e o The Day After,
que é o nosso Tomorrowland, bem menor”, disse,
aos sorrisos. Para a engenheira costa-riquenha
Melissa Quesada, 27 anos, esse é primeiro grande
festival se sua vida. “Gosto de música
eletrônica, mas não há tantos lugares para ir”,
comparou - Cataratas do Iguaçu e Rio de Janeiro
ainda estão na sua rota no Brasil.
Uma
parte dos visitantes do Festival - aproximadamente
20 mil, de acordo com a organização - ficará
hospedada no camping montado na fazenda. São 300
barracas “gourmet”, parecidas com um pequeno
chalé, outras 650 no camping intermediário,
montado pela produção, e ainda um espaço de
descanso e alimentação . É o DreamVille, local
reservado em que o ingresso pode custar R$ 1 mil
por pessoa.
O
Tomorrowland é povoado de lojas oficiais,
vendendo de camisetas a bandeiras, e também as
tendas com as finger foods e bebidas (uma cerveja
sai por R$11). Filas se formaram em vários pontos
à tarde, mas sem confusões aparentes.
Tabacarias, restaurantes e até uma piscina
distraem os passantes - que embora não marquem
nenhum estilo definitivo, em grande parte ostentam
músculos enormes e barrigas saradas. A sensação
criada pelo festival é de uma imensa vila
psicodélica.
DJ
Marky quer diversidade na cena brasileira
Marco
Antonio da Silva virou DJ Marky no início dos
anos 1990 na periferia de SP e, ao longo dos
últimos 25 anos, cresceu tanto que virou
unanimidade internacional, com autoridade
suficiente para dizer o que está certo e errado
por essas bandas.

“Não
há mais diversificação nos estilos”, comentou
ontem, no Tomorrowland Brasil. “Antigamente, um
mesmo clube tocava um estilo diferente a cada dia”,
disse, comparando com a cena atual, em que o EDM
(estilo mais comercial e bem sucedido da música
eletrônica, que hoje domina o mainstream, com
nomes como David Guetta e Hardwell) parece
triunfar de vez.
“Hoje,
no Brasil, se você está no mainstream, ok, mas
se você é médio, já não existe mais”,
explicou, lembrando que em outros países,
especialmente europeus, o mesmo não ocorre. A
explicação é cultural. “Precisamos valorizar
o DJ nacional, que faz sucesso internacional.”
Com
uma gravadora internacional (Innerground Records)
e uma marca (DJ Marky & Friends), que deu nome
ontem a um dos palcos do festival, ele observa
que, em outros países, os fãs se movem mais pela
música que pelo hype.
Prestes
a lançar um álbum (o primeiro em dez anos), ele
disse que bota os sentimentos nas próprias
composições - que podem variar da posição do
seu time no campeonato à visão de seu filho
jogando videogame. “Tem DJ que nem sabe tocar,
chega com os sets prontos e ocupa a primeira
posição de diversas listas”, alfinetou.

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